Mateus Capítulo 3 - Almeida 1860 Edição Atualizada (AEA - 1860)
Mateus 3
Seção 1 – A Pregação de João Batista
Seção 2 – A Repreensão aos Fariseus e o Anúncio do Juízo
Seção 3 – O Batismo de Jesus
João Batista e a Preparação do Reino: Arrependimento, Juízo e a Manifestação do Filho de Deus
Mateus 3.1–17
🔹 Versículos 1–6
✍️A pregação de João Batista no deserto e o chamado ao arrependimento
O capítulo 3 de Mateus se inicia com a figura extraordinária de João Batista, o último dos profetas do Antigo Testamento e o precursor do Messias. João aparece pregando no deserto da Judeia (v.1), um local que evoca tanto purificação quanto separação do sistema religioso corrompido da época. Sua mensagem era direta e contundente:
“Arrependei-vos, porque é chegado o Reino dos céus.” (v.2)
A palavra “arrependei-vos” no grego é metanoeite, que implica mudança de mente, direção e atitude diante de Deus. João não pregava um mero remorso emocional, mas um arrependimento genuíno que conduz à transformação moral e espiritual. Ele prepara o povo para a chegada iminente do Reino messiânico, cumprindo assim a profecia de Isaías 40.3:
“Voz do que clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas.” (v.3)
A vestimenta de João — feita de pelos de camelo e um cinto de couro (v.4) — remetia à figura profética de Elias (cf. 2 Rs 1.8), sinalizando que ele operava sob a mesma unção e missão: conclamar o povo de volta a Deus.
As multidões de Jerusalém, da Judeia e de toda a região do Jordão (v.5) vinham a ele, confessando seus pecados e sendo batizadas nas águas (v.6). O batismo de João era simbólico, mas carregado de significado espiritual: uma demonstração pública de arrependimento e preparação para o Cristo. Segundo Donald Stamps, esse batismo indicava que “a entrada no Reino de Deus exige pureza de coração e separação do pecado”¹.
🔹 Versículos 7–12
✍️ João repreende os hipócritas e anuncia o Juízo e o Batismo com o Espírito Santo e fogo
Nos versículos seguintes, João Batista não hesita em repreender duramente os fariseus e saduceus que se aproximavam (v.7). Ele os chama de "raça de víboras", uma expressão forte que denuncia a natureza hipócrita, venenosa e enganadora daqueles líderes religiosos. Eles buscavam o ritual do batismo sem o verdadeiro arrependimento que o precede.
João os exorta a produzirem frutos dignos de arrependimento (v.8), pois a mudança interior precisa se manifestar em ações concretas. A herança religiosa ou genealógica (v.9) — “temos por pai a Abraão” — não substitui a necessidade de conversão individual. Deus poderia levantar filhos para Abraão até mesmo das pedras, afirma João, mostrando que a graça não é hereditária, mas pessoal e recebida pela fé.
A imagem do machado à raiz das árvores (v.10) comunica que o tempo do juízo estava próximo, e todo aquele que não desse fruto — ou seja, que não demonstrasse um arrependimento verdadeiro — seria cortado e lançado no fogo.
Nos versículos 11 e 12, João aponta para alguém maior que viria após ele:
“Ele vos batizará com o Espírito Santo e com fogo.” (v.11)
Aqui está uma das maiores promessas pentecostais do Novo Testamento. João se refere ao batismo no Espírito Santo, que Jesus realizaria após sua exaltação (cf. At 1.5; 2.4). O “fogo” pode ser interpretado de duas formas: como símbolo do poder purificador e fervoroso do Espírito, e também do juízo para os impenitentes (cf. v.12). A linguagem agrícola da pá na mão, da limpeza da eira, do trigo no celeiro e da palha no fogo inextinguível (v.12) aponta para a separação final entre salvos e perdidos, uma doutrina fundamental no ensino escatológico de Jesus.
Conforme Stanley Horton, o fogo do Espírito “consome a impureza, ativa o zelo e purifica para o serviço”.²
🔹 Versículos 13–17
✍️ O batismo de Jesus e a confirmação pública como o Filho amado de Deus
Na sequência, vemos o surpreendente pedido de Jesus para ser batizado por João (v.13). João se recusa a princípio (v.14), reconhecendo a superioridade espiritual de Cristo. Contudo, Jesus insiste com humildade:
“Deixa por agora, porque assim nos convém cumprir toda a justiça.” (v.15)
Jesus não precisava de arrependimento, pois era sem pecado (cf. Hb 4.15), mas se submete ao batismo como identificação com os pecadores a quem veio salvar, e também como início público do seu ministério messiânico. O ato revela obediência, humildade e consagração.
✍️Ao sair das águas (v.16), três sinais sobrenaturais ocorrem:
- Os céus se abrem – indicando o acesso à glória e à vontade do Pai.
- O Espírito Santo desce como pomba – simbolizando a unção do Messias com mansidão e poder.
- Uma voz do céu declara: “Este é o meu Filho amado, em quem me agrado.” (v.17) – uma afirmação trinitária e messiânica da identidade divina de Jesus.
Este momento é uma das raras aparições trinitárias explícitas na Bíblia: o Filho é batizado, o Espírito desce, o Pai fala. Para os comentaristas pentecostais, esse é um dos fundamentos bíblicos da doutrina da Trindade, negada por grupos heréticos como os unitarianos.
Myer Pearlman destaca: “O batismo de Jesus foi o ponto de partida do Reino em ação; foi o sinal do céu de que o Cordeiro de Deus havia chegado.”³
📌 Aplicações Práticas para o Crente Hoje
Arrependimento verdadeiro é essencial para o Reino – Não basta religiosidade ou aparência; é preciso mudança de vida e frutos que comprovem essa mudança.
Devemos rejeitar toda forma de hipocrisia espiritual – Como João, devemos confrontar o pecado com coragem, sem temor aos homens.
Precisamos buscar o batismo com o Espírito Santo – Esta promessa não cessou; é atual, poderosa e necessária para testemunho e santidade.
Cristo é o Filho amado do Pai – E ao crermos nEle, somos também feitos filhos de Deus (Jo 1.12).
✍️ Conclusão
O capítulo 3 de Mateus nos apresenta uma transição decisiva na história da redenção: a voz profética ressurge com poder, o Reino de Deus se aproxima, e o Messias é apresentado ao mundo. João Batista nos ensina sobre a seriedade do arrependimento e a realidade do juízo vindouro, enquanto Jesus nos mostra o caminho da obediência e da aprovação divina. Que este capítulo nos leve à renovação espiritual e à expectativa pelo agir do Espírito Santo em nossa geração.
📚 Referências:
Donald C. Stamps, Bíblia de Estudo Pentecostal, CPAD.
Stanley M. Horton, O Que a Bíblia Diz Sobre o Espírito Santo, CPAD.
Myer Pearlman, Conhecendo as Doutrinas da Bíblia, CPAD.